Friday, October 27, 2006

Мαis-qµє-ρєгfєito.

Мαis-qµє-ρєгfєito
(Viηiciµs đє Мoαгєs)

Αh, qµєм мє đєгα iг-мє
Coηtigo αgoгα
Ραгα µм hoгizoηtє fiгмє
(Coмµм, ємboгα...)

Αh, qµєм мє đєгα iг-мє !
Αh, qµєм мє đєгα αмαг-tє
Sєм мαis ciúмєs
Đє αlgµέм єм αlgµм lµgαг
Qµє ηão ρгєsµмєs...

Αh, qµєм мє đєгα αмαг-tє !
Αh, qµєм мє đєгα vєг-tє
Sємρгє αo мєµ lαđo
Sєм ρгєcisαг đizєг-tє
Jαмαis : cµiđαđo...

Αh, qµєм мє đєгα vєг-tє !
Αh, qµєм мє đєгα tєг-tє
Coмo µм lµgαг
Ρlαηtαđo ηµм chão vєгđє
Ραгα єµ мoгαг-tє
Мoгαг-tє αtє' мoггєг-tє...

Monday, October 23, 2006

Fernandes, Millôr.



Millôr Fernandes, "Enterro de Mondrian"
Tríptico, nanquin e guache

Sunday, October 22, 2006

Duas frases.

"Alguns não conseguem afrouxar suas próprias cadeias e, não obstante, conseguem libertar seus amigos."

"Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas ?"

- Assim falou Zaratustra.

Madoz, Chema.

Saturday, October 21, 2006

Miquéias e a solidão.

A solidão de Miquéias.

Miquéias 7: 1-7

Miquéias ouve a voz de Deus e tem que falar.
Vê o mundo, e não tem como não denunciá-lo.
Percebe a desconstrução do individuo e da sociedade que o cerca.
Discerne que o significado de “irmão” já não existe.
O sistema se corrompera completamente.
A fé perdera seu significado ético.
A inafetividade total expulsara o carinho do caminho dos humanos.
Era tarefa espinhosa qualquer que fosse a tentativa de convívio.
Por isso, Miquéias perdera o apetite até pelo que mais apreciava.
Mergulhou num fastio de alma.
Então, ora a Deus, fala consigo mesmo e opina sobre a existência.
Eis o que ele diz:

Pobre de mim! O verão passou. Todos os frutos foram colhidos. Não há nem mais um cacho de uva para eu chupar.
E se houvesse, minha alma estaria sem apetite. Não há mais gente boa na terra. Parece que todos morreram. Procuro gente reta de coração, mas não acho ninguém. Ao contrário, todos espreitam para fazer o mal—cada um caça o seu irmão com a rede!
Vejo os homens agarrados ao poder de fazer o mal com extrema aplicação. Fazem o mal com competência. O sistema está todo corrompido: A autoridade política pede a condenação por interesse pessoal. O Juiz aceita negociar um preço. O homem rico e poderoso fala dos desejos maus que habitam a sua alma como se fosse algo do que se pode orgulhar.
Maldade virou currículo!

E, assim, todos juntos fazem parte de uma cadeia onde os variados interesses se combinam para executar variadas tramas. O melhorzinho deles é ainda como um espinheiro—não encoste porque você vai se machucar. O mais reto entre eles é ainda pior que uma cerca viva de espinhos: é reto, mas ao seu lado só se experimenta a retidão como ferimento.
É a lei contra a vida!

Miquéias pára e ora. Seu coração tem que vazar aquilo tudo para Deus. Então, ora com estas palavras:
Ó Deus, é chegado o dia anunciado pelas tuas sentinelas, o dia do teu castigo—aí está a confusão deles!

Agora, aos que o ouvem ele dá um conselho, considerando a maldade daqueles dias:
Não creiam em ninguém que chega fazendo amizades apressadas, geralmente são interesseiros. Não confie nem mesmo nos companheiros. Eles podem mudar de lado conforme a conveniência. Guarda teus segredos e tuas informações para ti mesmo. Não dá para confiar nem na pessoa que faz amor com você ou que se deita reclinadamente sobre o teu peito.
E por que digo isto?
Tenho minhas razões!
Digo assim apenas pelo que vejo.
O filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora contra a sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa!

Miquéias está só. Pergunta-se:
Em que mundo viverei então? Para onde irei, Senhor?

Fica em silencio por um pouco de tempo...Miquéias suspira fundo e olha para o alto. Seu coração se refaz. Um passaro fez um vôo rasante e pousou em seu ninho, num sicômoro que estava logo ali ao lado do lugar onde o profeta estava falando.

Então ele concluiu:
Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação: o meu Deus me ouvirá!

De minha parte apenas digo: eu também buscarei fazer o mesmo, amado irmão Miquéias!

(Caio Fábio)

Wednesday, October 18, 2006

Munch, Eduard



O Grito, 1983
El Friso de la Vida.

Tuesday, October 17, 2006

A minha difícil decisão.

Foi difícil, mas finalmente, depois de muito refletir, chorar, discutir, questionar, enfim... Estou jogando a toalha...

Não me chamem mais evangélica. De hoje em diante, sou somente Cristã.

(é... sou eu !)

Vou buscar apreciar a beleza da vida...
Cansei do fardo,
Cansei da hipocrisia,
Cansei das máscaras...
... mas principalmente, cansei de NÃO ser cristã.

Vou dar mais valor à poesia, à arte, à natureza...
Vou me divertir, tomar um bom vinho, bater papo até altas horas com amigos...
Vou cantar quando der vontade e dançar quando "der na telha".

Vou viver minha natureza humana... Deus me fez assim.

Vou ser cristã, aceitar o homem-Deus ressucitando em minha vida.
Deixarei a morte para trás... E os sepulcros caiados também.
Me reunirei com meus iguais, os hereges.

Celebrarei e me alegrarei na graça. Cantarei o amor.
Sairei do pedestal, tocarei as almas e os corpos. Serei humana.

Chega desse evangeliquês barato. Não usarei mais "clichês" em frases prontas.
Não irei para grandes templos, e talvez nem para os pequenos.

Irei comer com meus iguais, e trarei outros que queriam beber da liberdade.
Me recuso a beber de águas que não saciam a sêde.

Renoir, Pierre



Plait.

Vozes.

Vozes.
(Ricardo Gondim)

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz”. – Jesus de Nazaré.

Há muito meus ouvidos se fizeram surdos;
não distingo o imperceptível som de tua voz.
Peço-te que só mais uma vez fales “Efatá”
e se abrirão os meus ouvidos.

Quero ouvir teu chamado
para seguir a imponderável senda dos profetas
que mesmo debaixo de chuva de granizo,
defendem a viúva e o órfão.

Quero saber ouvir tua voz de dentro
das delegacias sujas,
dos manicômios de muros altos
das enfermarias esquecidas.

Quero ouvir teu lamento
sobre as nações
que rejeitam os pacificadores,
que apedrejam os esfomeados de justiça,
que se esquecem de abrigar o estrangeiro.

Quero ouvir teus conselhos
sobre os perigos da riqueza,
sobre os religiosos que guardam a letra
como ortodoxolatria,
sobre a estupidez de ganhar o mundo
e deixar a alma entrevada.

Quero ouvir tuas histórias
sobre aquele homem bondoso
com um desconhecido caído na calçada
sobre aquele Pai que esperava no alpendre
seu filho cansado da orgia,
sobre aquele anfitrião que catou
os menos nobres para seu banquete.

Quero ouvir tua advertência
de que teus filhos não são poupados
das inclemências do mundo,
não desceste para estar conosco numa redoma.

Quero ouvir tua promessa
de que estarás ao nosso lado
em toda circunstância até que tudo termine,
de que enviarás teu Espírito que será
um leal conselheiros na verdade.

Quero ouvir teu sussurro
me confortando de que falta muito pouco
para festejarmos numa grande festa
para dançar e beber vinho de qualidade.

Se tuas ovelhas percebem tua voz,
quero, mais do que tudo,
que fales e responderei:
Teu Servo ouve.

Monet, Claude

Eu passarinho !

Poeminho do contra.

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

(Mario Quintana)

Monday, October 16, 2006

Matisse, Henri



Henri Matisse. The Bank. 1907. Oil on canvas. Kunstmuseum Basel, Basel, Switzerland.

Desejos.

Desejos.
(Ricardo Gondim)

Desejo conquistar a mim mesmo para
não sonhar os sonhos
do enlouquecido

Desejo aceitar as feridas de quem ama para
quebrar o feitiço
do adulador.

Desejo a quietude do sábio para
desprezar a festa
do farsesco.

Desejo sentar com o humilde para
desdenhar a sedução
do rei.

Desejo ser filho amado de Deus para
não tentar ser dono
do sobrenatural.

Desejo viver contente para
não me enamorar
da riqueza.

Desejo vestir-me de bondade para
nunca valer-me
da vigança.

Desejo a sombra dos simples para
não me conduzir pelo sol
do soberbo.

Desejo esquecer sonhos infantis para
viver com a grandeza
da criança.

A vida é bonita e
os anos tão ariscos.

Tenho tantos desejos e
tão pouco tempo para
cumpri-los.

Como nunca deixarei de almejar,
quero só desejar certo.

Dali, Salvador



Christ of Saint John of the Cross, 1951

Saturday, October 14, 2006

Ao Deus desconhecido...

A Oração ao Deus Desconhecido.

Antes de prosseguir em meu caminho
e lançar o meu olhar para frente uma vez mais,
elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração,
tenho dedicado altares festivos para que, em
Cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
“Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante,
quero Te conhecer, quero servir só a Ti.

[Friedrich Nietzche]

(Traduzida do alemão por Leonardo Boff)

Friday, October 13, 2006

Preciso dizer...

TE AMO !!!

Até quando vou viver assim ???
Não consigo descrever o que sinto quando te olho nos olhos...
Meu Deus do céu !!! O que está acontecendo comigo ???

Guttuso, Renato


Pugilatori, 1983.
Acrilico su carta intelata.
Collezione privata.

Ah, o insulto...

# Ele tem todas as virtudes de que não gosto e nenhum dos vícios que admiro.
-Winston Churchill

# É uma pessoa muito modesta, com todo motivo para ser.
-Winston Churchill

# Nunca matei ninguém, mas já li obituários com grande prazer.
-Clarence Darrow

# Ele nunca usou uma palavra que levasse o leitor a consultar o dicionário.
- William Faulkner (sobre Ernest Hemingway)

# Pobre Faulkner: ele pensa que grandes emoções se despertam com palavras grandes.
- Ernest Hemingway (sobre William Faulkner)

# Ele consegue comprimir o maior número de palavras na menor das idéias melhor do que qualquer homem que conheço.
- Abraham Lincoln

# Tive uma noite maravilhosa. Mas não foi esta.
- Groucho Marx

# Não estive presente no funeral, mas mandei uma cartinha de aprovação.
- Mark Twain

# Ele não tem inimigos, mas conta com a antipatia de todos os amigos.
- Oscar Wilde

# Em anexo duas entradas para a noite de estréia da minha peça. Traga um amigo… se você tiver um.
- George Bernard Shaw para Winston Churchill

# Não vou poder de jeito nenhum estar na noite de estréia. Vou na segunda apresentação… se houver uma.
- Winston Churchill, em resposta

# Sinto-me péssimo sem você. É quase como se você estivesse aqui.
- Stephen Bishop

# Acabo de saber da doença dele. Vamos esperar que não seja nada trivial.
- Irvin S. Cobb

# Ele não é apenas obtuso, é causa da obtusidade de outros.
- Samuel Johnson

# Não há nada errado com você que a reencarnação não possa curar.
- Jack E. Leonard

# Eles nunca abrem a boca sem subtrair da soma do conhecimento humano.
- Thomas Brackett Reed

# Ele herdou alguns instintos virtuosos de seus antepassados quacres, mas trabalhou diligentemente até superá-los.
- James Reston, sobre Richard Nixon

# Ele ama a natureza apesar do que ela fez com ele.
- Forrest Tucker

# A mãe dele deveria ter jogado fora o bebê e ficado com a água.
- Mae West

# Alguns ocasionam alegria onde vão; outros, quando vão.
- Oscar Wilde

# Ele usa estatísticas do jeito que um bêbado usa um poste: para se apoiar, e não para iluminar.
- Andrew Lang

# Ele tem o ouvido de Van Gogh para música.
- Billy Wilder

# A intuição feminina é resultado de milhões de anos de não pensar.
- Rupert Hughes

# Por Deus, não sei dizer se o senhor acabará morrendo enforcado ou de sífilis.
- Conde de Sandwich a John Wilkes

# Isso vai depender, meu senhor, de se abraçarei os seus princípios ou a sua senhora.
- John Wilkes, em resposta

# Ele pode ter cara de idiota, jeito de idiota e conversa de idiota, mas não se deixe enganar: ele é mesmo um idiota.
- Groucho Marx

# Ele é cabeça aberta – tão aberta que as idéias passam direto.
- F. H. Bradley

# Se o senhor fosse meu marido, eu colocaria veneno na sua bebida.
- Lady Astor, para Winston Churchill

# Se eu fosse seu marido, eu beberia.
- Winston Churchill, em resposta

# Para pensar como você só é preciso não ter nada além de inteligência.
- citado por Miguel de Unamuno

Thursday, October 12, 2006

Klee, Paul


Ancient Sound, 1925
Oil on cardboard
Kunstsammlung, Basel

Aprendizes, músico e cozinheiros.

Sobre aprendizes, músicos e cozinheiros.
Os mestres da palavra.


Alberto Caieiro, um aprendiz.

“O essencial é saber ver –
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...”

“Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me
Ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras
Desembrulhar-me e ser eu...”

Milan Kundera, um músico.

“Assim é feita a vida, composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, toma o acontecimento fortuito e os transpõe musicalmente, para fazer dele um tema que, em seguida, fará parte de sua própria vida. Voltará ao tema, repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas da sua sonata. O homem [mulheres também] inconscientemente compõe a sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero”.

Rubem Alves, um cozinheiro.

“Minha escritura não é científica. A escritura científica busca a verdade. Mas a verdade, para ser verdade, tem de ser comível por todos, independentemente do gosto. O seu gosto não importa. Importa apenas a substância. Temperos são proibidos num texto científico. A ciência dispensa o processo de degustação. Degustação é coisa da sapiência. Se a sua dieta é feita apenas com textos científicos, e se você não tem disposição para tentar comidas diferentes, aconselho-o a não perder o seu tempo com este livro”.

“Mas mesmo que você aprecie um menu mais variado, há sempre certos pratos que nos causam repugnância. Olhos de foca, petiscos apreciadíssimos pelos esquimós, eu não os comeria por nada desse mundo. Mas existe sempre a possibilidade de que aquilo que se pensava repulsivo talvez venha a ser um banquete delicioso, como foi o caso da festa de Babette. Tão delicioso que os convidados, velhos, azedos, amargos, invejosos, feios, mesquinhos etc., ao final do banquete, passaram por uma metamorfose e se transformaram todos em crianças. Esse é o meu desejo. Escrevo como quem cozinha... “

Vinicius de Moraes, um operário.

“– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
.– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Paulo, um vaso de barro.

“Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal”.

Graça.

Um poema de Gregório de Narek - 944-1010 dC., monge e poeta armênio.

Numerosas são as minhas ofensas e ultrapassam toda a conta,
mas nem por isso tão espantosas como a tua misericórdia.
Múltiplos os meus pecados,
mas sempre diminutos, comparados com o teu perdão.

Quem poderá lançar a treva
sobre a tua luz divina?
Poderá uma reduzida obscuridade
rivalizar com os teus raios, grande como és?
Poderá a concupiscência do meu frágil corpo
ser comparada com a Paixão da tua Cruz?

O que serão aos olhos da tua bondade,
Deus Onipotente, os pecados de todo o universo?
São como uma bolha de água que,
à queda da tua chuva abundante, logo desaparece.

Tu fazes brilhar o sol sobre os justos e os pecadores
e chover sobre todos indistintamente.
Uns vivem em grande paz,
na expectativa da recompensa;
Mas, àqueles que preferiram a terra,
perdoas-lhes por misericórdia,
E dá-lhes, como aos primeiros, um remédio de vida,
esperando sempre que a Ti regressem.

Perfume de mulher.

"De repente entra na sala uma mulher de reputação pra lá de duvidosa e caminha segura na direção de Jesus. Não faz cerimônia, ajoelha-se atrás dele e lava-lhe os pés com lágrimas. Usa os cabelos como toalha, e derrama sobre os pés secos o perfume que enche a casa de cheiro de cabaré. Jesus não se faz de rogado: entrega os pés aos beijos da mulher.(...)

... onde foi que esconderam o Deus que aceita o perfume das prostitutas ?"

(Ed René Kivitz)

Wednesday, October 11, 2006

Cézanne, Paul



Portrait of the Artist's Father - c. 1866
Oil on canvas
198.5 x 119.3 cm (78 1/8 x 47 in)
National Gallery of Art, Washington, D.C.

Tuesday, October 10, 2006

Ainda Gondim

Fragmentos dostoiewskianos.
(por Ricardo Gondim)

O desafio de seguir as pegadas de Cristo inclui a necessidade de ver-se livre e libertado. Todos devem atentar para as palavras do Grande Inquisidor de Dostoievski:

“Em vez de dominar a consciência, vieste aprofundá-la ainda mais; em vez de cercear a liberdade dos homens, vieste alargar-lhes ainda o horizonte... Teu desejo era libertar os homens para o amor. Livre deve ele seguir-te, sentir-se atraído e preso por Ti. Em vez de obedecer às duras leis do passado, deve o homem a partir de agora, com o coração livre, decidir diante de si o que é bom e o que é mau, tendo o Teu exemplo diante dos olhos”.

Ao regressar da casa dos mortos, sua prisão com trabalhos forçados na Sibéria, Dostoievski afirmou:

“Às vezes Deus me envia instantes de paz; nestes instantes, amo e sinto que sou amado; foi num desses momentos que compus para mim mesmo um credo, onde tudo é claro e sagrado. Este credo é muito simples. Ei-lo: creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu o digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha nele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade”.

Por essas e por outras, tornei-me admirador desse fenomenal escritor russo.

Lembrando que sou pó.

Lembrando que sou pó.
(Ricardo Gondim)

Agora sei que sou quebradiço como biscoito na mão de criança, efêmero como bandeirolas que se desfazem na ventania.

Descobri que meu peito pode se desmanchar com qualquer chuva forte, e que não passo de um grafite na calçada, desenhado para sumir debaixo de pegadas alheias. Não falta muito para que se esgotem meus dias, e sem canção de ninar, fecharei os olhos para essa terra.

Alucinei como um Quixote enlouquecido, mas o mundo me venceu. Não desmontei nenhum cartel de cocaína, não desbaratei nenhum comércio internacional de armas, não acabei com a prostituição infantil, não trabalhei em nenhuma clínica para aidéticos na África. Plantei igrejas, mas como agente transformador da história só consegui arranhar a superfície. Enviei missionários, mas sobraram poucos, a maioria foi engolida por culturas fortíssimas e histórias milenares. Pela falta de recursos financeiros, fizemos um mínimo.

Trabalhei como um messias onipotente, mas me cansei nessa arrogância. Não vi meus três filhos crescerem porque desejava pregar em congressos que, só hoje vejo, serviam mais para inflar egos do que ajudar na construção do Reino. Viajei centenas de milhares de milhas para, abatido, assistir o avanço desenfreado de uma teologia mercantilista, egocêntrica, dogmática e fundamentalista. Deixei minha mulher chorando em casa porque me acreditava essencial em um evento que, olhando para trás, não passava de uma programação para fortalecer instituições humanas. Deixei, muitas vezes, minha cama e meu travesseiro para dormir em hotéis baratos, porque me via como Apolo, tendo que carregar o mundo nas costas. Fiz poucos amigos porque achava que precisava atender todas as pessoas.

Lamento não ter tido tempo para conversar nos fins de tarde com minha querida avó, que tanto pediu minha presença. Eu me sentia obrigado a visitar um membro de minha igreja que nunca me considerou seu amigo. Ele só queria usar um pouco de minha falsa onipotência.

Vivi como um deus imortal e acordei tardiamente para minha finitude. Com trinta anos de idade, considerava que a velhice esperaria séculos para visitar-me. Agora, aos cinqüenta e dois, ela me acena de uma esquina chuvosa e fria. Como fui tolo de acreditar que podia desperdiçar momentos preciosos e que meu calendário se prolongaria para sempre.

Desisto de meus quixotismos, falsa onipotência e dos desejos de ser eterno.

Assim, tomo algumas decisões.

1. Continuarei lutando sem a pressão de ter que dar certo. Farei o bem porque vale a pena, mesmo que não haja nenhuma recompensa. Desejo terminar minha caminhada ao lado de pessoas queridas e sentir-me como naqueles filmes em que um punhado de heróis idealistas se prepara para enfrentar, e provavelmente ser esmagado, por um exército e um deles diz ao outro, acreditando ser suas últimas palavras: "Foi uma honra lutar ao lado dos senhores".

2. Para eu aceitar qualquer compromisso de participar ou falar em alguma conferência, usarei dois, unicamente dois, critérios: a) as aspirações, caminhada e intenções daquele evento contribuem com os anseios mais profundos da minha alma? b) estarei entre amigos que preferem uns aos outros em honra?

Quero preparar-me para o último tempo de minha vida. Não tenho mais tempo para comportar-me como neófito porque, como dizem os americanos, “The stakes are too high!”.

Soli Deo Gloria.

Saturday, October 07, 2006

Butterfly.








No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

(Cecília Meireles)

People like me.


















Gente como a gente.
(by Paulo Brabo)

Um estudo publicado em julho do ano passado pela American Psychological Society sugere que nossos genes dão um jeito para que, sem nos darmos conta disso, acabemos gostando e nos apegando a gente semelhante a nós.

Conduzido por J. Philippe Rushton e Trudy Ann Bons, da Universidade de Ontário, o estudo parece comprovar que somos em geral surrealmente semelhantes a nossos cônjuges e melhores amigos – e ainda mais do que estamos habituados a pensar, já que a semelhança se estende muitas vezes ao nível genético.

Não é difícil concluir que preferimos em geral a companhia de gente como a gente: extrovertidos preferem extroverditos, gente tradicional prefere gente tradicional. Mais notável é descobrir que em alguns casos compartilhamos sem saber quase metade do nosso material genético com nosso cônjuge ou melhor amigo. “De um leque de alternativas possíveis, as pessoas buscam aqueles que são compatíveis com o seu genótipo”, afirmam os autores.

Nossos genes nos fazem gostar de gente como nós.

“Quando você gosta, é amigo, ajuda ou se acasala com gente que é muito semelhante geneticamente a você, nada mais está fazendo do que tentando assegurar que seu próprio segmento do acervo genético seja preservado e preferencialmente transmitido às gerações futuras”. É o gene egoísta de Richard Dawkins, fazendo-se passar por bonzinho.

Como incomodava o subversivo de Nazaré: “Se amardes os que têm o mesmo conteúdo genético de vós, que recompensa tendes? Não fazem os sanguessugas de Brasília também o mesmo?”

Se por um lado fico lisonjeado diante da mera possibilidade de ostentar qualquer semelhança essencial com meus amigos, sou por outro forçado a reconhecer que meu amor reputadamente mais apaixonado e altruísta é delineado, ele mesmo, por narcisismo e auto-obsessão.

Sou mesmo um traste.

Meu consolo é que meus amigos não ficam atrás.

Prefiro o equívoco.

Apesar de todo o estardalhaço que se faz no mundo a respeito de opiniões equivocadas, sou obrigado a fazer essa correção a respeito da humanidade, dizendo que não existem tantos homens enganados e opiniões erradas quanto se costuma supor. Não que eu creia que a maioria abrace a verdade; digo isso porque a respeito das doutrinas que defendem com tanto zelo eles não nutrem qualquer opinião, não dedicaram qualquer reflexão.

Pois se alguém se propusesse a catequizar um pouco que fosse a maior parte dos partidários da maior parte das facções do mundo, acabaria descobrindo que eles não têm opinião própria a respeito das questões que tão ardentemente defendem; teria menos razão ainda para crer que eles julgaram sua responsabilidade examinar os argumentos e pesar a probabilidade da doutrina que abraçam. Essa gente está determinada a apegar-se à facção a que foram engrenados pela educação ou pelo interesse; e ali, como soldados do mesmo exército, demonstram sua coragem e entusiasmo na medida em que são conduzidos pelos seus líderes, sem jamais chegarem a examinar ou a sequer refletir a respeito da causa pela qual lutam.

Basta para ele obedecer a seus líderes.
Se a vida de um homem demonstra que ele não nutre interesse sério por religião, o que deveria levar-nos a pensar que ele quebra a cabeça a respeito das opiniões da igreja ou preocupa-se em examinar os fundamentos desta ou daquela doutrina? Basta para ele obedecer a seus líderes, ter língua e mão prontas para apoiar a causa comum, e manter-se dessa forma aprovado diante dos que podem fornecer a ele crédito, preferência ou proteção dentro daquela sociedade. Dessa forma os homens tornam-se professores e combatentes em favor de opiniões a respeito da qual nunca foram convencidos e que nunca abraçaram de fato; opiniões que não chegaram nem de longe a passar-lhes pela cabeça.

Embora não se possa dizer que existam menos opiniões equivocadas e improváveis do que comumente se julga, é certo que um número menor de pessoas de fato abraçaram-nas e confundem-nas com a verdade.

(John Locke, Essay Concerning Human Understanding -1689)

Thursday, October 05, 2006

Me pediste...

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

(by Pablo Neruda)

Outro Deus

Outro Deus [# 01]
(Ed René Kivitz)

Por que “outro Deus”? Para responder, preciso fazer uma confissão: gosto de Marx (1818 – 1883), Nietzsche (1844-1900), Freud (1856-1939), Sartre (1905 – 1980), e outros caras do tipo.

Gosto porque são passionais, ou melhor, prefiro dizer viscerais, e honestos, pelo menos no que escreveram. Gosto porque suas perguntas deixam os religiosos, como eu, por exemplo, no canto da parede.

Gosto porque suas perguntas não têm nada a ver com Deus. Têm tudo a ver com os religiosos, ou se você preferir, com a idéia religiosa de Deus, o que Saramago chamou de “fator Deus” – a maneira como Deus é percebido, crido, tratado pelos que nele crêem.

A religião, no sentido de “fator Deus”, de fato, é um esconderijo para gente alienada, covarde e infantil. Não são poucos os que se apegam ao “fator Deus” em busca de consolo para sua infelicidade na existência e sobrevivem do sonho do paraíso pós morte, deixando a história entregue aos oportunistas.

Muita gente procura em Deus o pai que nunca teve e ou gostaria de ter tido, isto é, aquele protetor e provedor incondicional, para quem se corre quando a vida faz careta. Outros há que se recolhem em Deus fugindo exatamente da possibilidade de encarar as caretas da vida, numa recusa em assumir a responsabilidade de escrever uma biografia digna, entregando tudo aos desígnios determinados pelo céu, a famosa vontade de Deus.

Por que “outro Deus”? Porque um Deus que gera alienados, infantis e covardes não é Deus, é um deus. Um Deus “costas largas”, como diz minha mãe, responsabilizado por todas as mazelas da vida, e é cobrado por solucionar rápido o desconforto dos seus fiéis, não é Deus, mas um deus, isto é, um ídolo.

Mas há coisa pior do que ser alienado, infantil e covarde. Dizem que pouca gente faz tanto mal quanto os estúpidos engajados, os idiotas trabalhadores. Quando o sujeito é um estúpido ou idiota preguiçoso, passivo, causa pouco estrago. Mas quando o sujeito é dedicado, comprometido, voluntarioso, então o estrago é grande.

Eles descambam para os fundamentalismos, promovem os sectarismos, abusam de sua pseudo autoridade, manipulam gente piedosa, usam a religião em benefício próprio, instrumentalizam o nome de Deus, e transformam o que seria esperança em niilismo e cinismo. Estes tais serviram para Nietzsche justificar sua angústia: “Se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no redentor”.

Wednesday, October 04, 2006

Goiabas roubadas.

Todos que acreditam em psicocinese levantem a minha mão.

Você não pode ter tudo. Onde você ia colocar?

Eu mataria por um Nobel da Paz.

Eu quase tive uma namorada vidente mas ela me largou antes de me conhecer.

Como é que você sabe dizer se a tinta invisível acabou?

Defenda as bactérias – elas são a única cultura que algumas pessoas tem.

Se a Barbie é tão popular, porque a gente tem de comprar amigos pra ela?

Águias podem cruzar as alturas, mas fuinhas não são sugadas para dentro de turbinas de aviões.

Eu costumava ter mente aberta mas meu cérebro ficava caindo.

Se não der certo na primeira vez, destrua todas as evidências de que você tentou.

Experiência é uma coisa que você não tem até precisamente depois de precisar dela.

Para cada ação há uma crítica igual e oposta.

A dureza da manteiga é proporcional à maciez do pão.

Segunda-feira é um lugar deprimente para se passar um sétimo da vida.

Quanto mais cedo você ficar atrasado com suas responsabilidades, mais tempo de sobra vai ter para correr atrás do prejuízo.

Se tiver de escolher entre dois males, escolha um que nunca cometeu antes.

Faça planos para ser espontâneo amanhã.

42,7% das estatísticas são inventadas na hora.

Minha teoria da evolução é a de que Darwin era adotado.

“Você dormiu bem?” “Não, cometi um erro ou dois.”

Eu estava indo a 140 Km/h e o guarda me parou. “Você não sabe que o limite de velocidade é 110 quilômetros por hora?” “Sei, seu guarda, mas eu não ia ficar na estrada todo esse tempo.”

Metade das pessoas que você conhece está abaixo da média.

Ontem eu disse a uma galinha que atravessasse a rua. “Por quê?”, ela perguntou.

Fiz um curso de espera dinâmica. Agora consigo esperar uma hora em dez minutos.

When I die I’m going to leave my body to science fiction.

Tenho uma secretária eletrônica no carro. Ela diz: “Estou em casa agora. Deixe uma mensagem e eu retorno a ligação quando sair”.

Dois bebês nasceram no mesmo dia e no mesmo hospital. Ficaram ali deitados olhando um para o outro. Suas respectivas famílias vieram e levaram-nos embora. Oitenta anos depois, por uma bizarra coincidência, estavam os dois deitados no mesmo hospital, em seus leitos de morte, um ao lado do outro. Um deles olhou para o lado e perguntou: “E daí, o que é que você achou?”

Pretendo viver para sempre. Até agora tudo bem.
(by Steven Wright - retirado da "bacia das almas")

Sunday, October 01, 2006

Ética cristã.

"Os que convivem com os bastidores da música e do universo da adoração, têm motivos de sobra para desanimar, quanto à vivência dos valores do evangelho e da ética cristã."
(Uassyr Verotti Ferreira, do Vencedores Por Cristo)

Desabafo.

(By Ricardo Gondim)

"...Não me deleito em saber que consto no Index como um dos grandes apóstatas brasileiro. Mas, por mais que tente, não consigo varrer minhas inquietações para debaixo dos tapetes do mistério. Não tolero que me digam que certas doutrinas são mistério e que preciso aquietar-me com o ensino de que Deus em sua soberania sabe o que faz. Esse dogmatismo não me acalma. Quero saber, quero respostas! Aquiesço que jamais conhecerei todos os porquês, só não admito que me proíbam de continuar indagando.

Sendo assim, consagro meu novo status de herege para a glória de Deus. Desde que aceitei a Cristo como Senhor de minha vida, considero minha reputação um esterco. Tudo o que tenho e sou dedico ao santo ofício de trazer minha geração para um relacionamento mais íntimo com Jesus. Quero somar ao lado dos que têm fome e sede de justiça.

Caso minhas divagações e elucubrações ajudem as pessoas a conhecerem a ternura e o amor de Deus, continuarei a escrever, rasgando meu peito em público. Meus inquisidores podem dormir tranqüilos, no instante em que notar que meus devaneios promovem indolência, desumanidade e paranóias nas relações com o próximo e com Deus, calarei para sempre; e nunca mais se terá qualquer notícia minha.

Por enquanto, desejo transformar essas tais heresias em matéria prima que promova o bem da humanidade; sempre para o louvor do seu nome.

Soli Deo Gloria."