Aprendizes, músico e cozinheiros.
Sobre aprendizes, músicos e cozinheiros.
Os mestres da palavra.
Alberto Caieiro, um aprendiz.
“O essencial é saber ver –
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender...”
“Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me
Ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras
Desembrulhar-me e ser eu...”
Milan Kundera, um músico.
“Assim é feita a vida, composta como uma partitura musical. O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, toma o acontecimento fortuito e os transpõe musicalmente, para fazer dele um tema que, em seguida, fará parte de sua própria vida. Voltará ao tema, repetindo-o, modificando-o, desenvolvendo-o e transpondo-o, como faz um compositor com os temas da sua sonata. O homem [mulheres também] inconscientemente compõe a sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero”.
Rubem Alves, um cozinheiro.
“Minha escritura não é científica. A escritura científica busca a verdade. Mas a verdade, para ser verdade, tem de ser comível por todos, independentemente do gosto. O seu gosto não importa. Importa apenas a substância. Temperos são proibidos num texto científico. A ciência dispensa o processo de degustação. Degustação é coisa da sapiência. Se a sua dieta é feita apenas com textos científicos, e se você não tem disposição para tentar comidas diferentes, aconselho-o a não perder o seu tempo com este livro”.
“Mas mesmo que você aprecie um menu mais variado, há sempre certos pratos que nos causam repugnância. Olhos de foca, petiscos apreciadíssimos pelos esquimós, eu não os comeria por nada desse mundo. Mas existe sempre a possibilidade de que aquilo que se pensava repulsivo talvez venha a ser um banquete delicioso, como foi o caso da festa de Babette. Tão delicioso que os convidados, velhos, azedos, amargos, invejosos, feios, mesquinhos etc., ao final do banquete, passaram por uma metamorfose e se transformaram todos em crianças. Esse é o meu desejo. Escrevo como quem cozinha... “
Vinicius de Moraes, um operário.
“– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
.– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
Paulo, um vaso de barro.
“Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós. De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não destruídos. Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo. Pois nós, que estamos vivos, somos sempre entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida também se manifeste em nosso corpo mortal”.
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