Palavras...
Gotas da alma, flashes do espírito...
Friday, September 29, 2006
Wednesday, September 20, 2006
Just a pray.
Uma oração.
(Jorge Luis Borges)
"Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido; não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dumbar ou de Frost ou do homem que viu à meia noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.
Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo."
Thursday, September 14, 2006
Surpreenda !
Faça o que os outros não esperam
(da série EM SEIS PASSOS QUE FARIA JESUS - Paulo Brabo)
A intolerância contra os religiosos não é a marca mais singular do impenitente seguidor literal de Jesus; talvez não seja sequer a primeira. Esse passo na verdade flui naturalmente dos seguintes, que serão talvez mais íntimos e essenciais (temos além disso a vantagem de que os líderes religiosos de hoje, embora requeiram incrivelmente mais atenção, luz da ribalta e purpurina, são em geral levados menos a sério do que no tempo de Jesus. Mesmo os que os que se dão ao trabalho de ouvi-los tratam de não levar em conta o que eles exigem).
O segundo passo para quem quer seguir a trilha ainda virgem deixada por Jesus é mais sutil e muitas vezes mais exigente. Ele requer que sejamos, como ele, em tudo inclassificáveis e inesperados: lisos como peixes. Requer que façamos o que os outros não esperam de nós a cada dado momento – um momento atrás do outro, a vida inteira. Que permaneçamos um incômodo mistério para os outros, não pela nossa conformidade a padrões tidos como suficientemente exigentes, mas pela nossa incorfomidade para com esses e para com todos os padrões. Que sejamos, numa palavra, subversivos.
Essa absoluta imprevisibilidade de Jesus era talvez a sua característica mais evidente e desconcertante para os contemporâneos dele. Se algum consenso foi se desenvolvendo entre os que iam conhecendo o descarado rabi da Galiléia era que nada se podia tomar por certo a respeito dele. Não importava quão seguro fosse o seu argumento, quão firme a sua convicção, quão inabalável a sua dedicação: Jesus desarmaria todas as vezes, para o bem ou para o mal, qualquer um que se aproximasse dele oferecendo um elogio ou uma provocação.
Não havia como fazer com que o Filho do Homem fizesse o que se esperava dele. O sujeito era indomável. Quando se esperava que ele curasse o paralítico que conseguíramos descer a muito custo pelo buraco no teto, ele perdoava os pecados do infeliz. Quando se esperava que ele despachasse a prostituta que veio embaraçá-lo num jantar oficial, ele fazia com que apenas ela se sentisse à vontade. Quando se esperava que ele curasse o leproso antes de tocá-lo impunemente, Jesus fazia o contrário. Quando Pedro oferecia num único gesto um elogio e uma boa intenção, Jesus chamava-o de Satanás. Quando vinham dizer que sua família estava aguardando lá fora, Jesus esclarecia que sua família já o estava seguindo aqui dentro. Quando se esperava um mínimo de respeito para com os religiosos, ele garantia que as prostitutas chegavam ao céu antes deles. Quando uma devota erguia seu embevecido louvor da multidão: “Feliz é a mulher que lhe deu a luz, e os seios que lhe amamentaram”, Jesus contradizia na cara dura.
Não havia como fazer com que o Filho do Homem fizesse o que se esperava dele.
Como um incômodo trickster galileu, um João Grilo dos sertões da Judéia, Jesus era compassivo quando esperava-se o seu furor, implacável quando estávamos certos de sua aprovação, atordoantemente sagaz quando tinha-se por certo que ele cairia na nossa armadilha. O rabi saía distribuindo provocações teológicas e morais, denunciando simplificações, desmascarando sem dó e em público.
Seus antagonistas armaram contra ele todo tipo de armadilhas teológicas, morais e políticas – Jesus se safava de todas e com brilho, com exuberância, com medidas iguais de sarcasmo e bom humor. Ele calava seus inimigos e zombava respeitosamente da efígie de César com uma moeda emprestada na mão; sem parar de escrever com o dedo na areia, salvava numa cajadada só a donzela em perigo e fazia com que seus acusadores admitissem que não estavam eles mesmos livres de pecado; quando duvidaram que houvesse boa teologia em sua afirmação de ser filho de Deus, demonstrou graciosamente pela Escritura que não somos todos outra coisa além de deuses – até o ponto em que, sensatamente, “ninguém ousou mais fazer-lhe qualquer pergunta”.
Gente que nunca tinha ouvido falar de Sócrates puxava conversa com o rabi e não saía com uma convicção ilesa. Ele desconstruía, transtornava, revirava raciocínios, julgamentos e condenações.
Ao velho Nicodemos ele explicou, nada explicando, que para ver o céu era preciso nascer de novo. Dos discípulos que o tinham como grande mestre ele lavou os pés, e ensinou-os que para ser o maioral é preciso ser escravo voluntário e eficaz de todos. Propôs a adultos perplexos e funcionais que para pôr o pé no reino das vantagens de Deus é preciso ser incompetente como uma criança. Disse a gente miserável que infelizes eram os ricos, e prometeu-lhes ainda mais miséria e uma vida proporcionalmente abundante. Em Samaria recusaram-se a conceder-lhe pouso, pela simples razão que ele rumava para Jerusalém; dias depois, à sombra do Templo, ele contava uma parábola em que o samaritano é o indiscutido herói.
Jesus era universalmente conhecido por não fazer e por não dizer o que se esperava dele, e penso que essa imprevisibilidade era de fato a marca mais contundente da sua postura pública. O paradoxo, naturalmente, está em que esta sua característica em particular é a que os cristãos menos tem se preocupado em incorporar ao longo do tempo.
Há cristãos que seguem o Primeiro Passo e demonstram uma saudável intolerância contra os religiosos; um número incrivelmente menor segue Jesus em ser inesperado como ele foi. Não há catecismo ou Escola Dominical que nos ensine a sermos desbocados, independentes, provocadores e desarmantes como Jesus.
Pelo contrário, os que se afirmam e se crêem cristãos nos nossos dias levam a marca quase universal de vaquinhas de presépio: formatados, inofensivos, dóceis e obtusos. Tudo que aparentemente temos a oferecer são respostas prontas, gestos decorados e a mais careta e reacionária das posturas. Somos um bando açucarado de beatos e carolas: uma assembléia de bocós, e não os subversivos que nossa vocação exigiria de nós.
E não é como se Jesus não tivesse deixado claro que esperava a mesma postura indomável e independente dos seus seguidores; pois deixou. Ele convidou os discípulos, em palavras e incessante exemplo, a que fossem “inocentes como pombas e astutos como as serpentes”. Infelizmente, aconteceu de cristãos de todas as épocas acreditarem que as duas coisas são incompatíveis. Alguns de nós, tenho de reconhecer, são inocentes como pombas, embora prefiramos em geral ser obtusos como asnos e mesquinhos como sanguessugas. Astutos como serpentes, estou para ver.
Isso porque a postura de contradição que Jesus aparentemente exibia não era gratuita nem arbitrária. Ele não contradizia por contradizer; não era do contra como um adolescente. Sua implacabilidade tinha um fundamento e um método.
Mas exigia ser astuto como uma serpente, e em determinado momento ele passou a exigir o mesmo dos seus discípulos. Não basta que a sua integridade exceda a dos fariseus, ele foi deixando claro; vocês tem também de ser mais espertos do que eles. Para ser imprevisível é preciso ser esperto; para enxergar a armadilha sendo montada é preciso tarimba; para evitá-la é preciso jogo de cintura; para desarmar o seu adversário pulicamente, sarcasmo e bom humor; para desmascarar o seu adversário diante dele mesmo, uma compassiva mas implacável inteligência verbal.
Basta ao discípulo ser como o mestre.
Pureza de coração e sagacidade de espírito não são coisas que se veja andando juntas todo dia, mas eram o mínimo que esperava o rabi de um seguidor seu. Basta ao discípulo ser como o seu mestre.
Com o tempo, depois da partida de Jesus, os apóstolos foram miraculosamente incorporando essa contundente característica em suas posturas individuais. Foram se imbuíndo, por assim dizer, do espírito de Jesus, e acabaram tornando-se tão subversivos quanto ele. Pedro, João, Paulo, Estevão, Tiago e seus asseclas, de inofensivos ou pelegos que eram, tornaram-se absolutamente incômodos ao sistema. Os que não encontravam como argumentar com eles buscaram logo modos lícitos e ilícitos de silenciá-los. Finalmente Jesus estava sendo homenageado e seguido como convém, e para o mesmo destino.
Se você quer ser como Jesus, tem de ser mais esperto do que a maioria dos ursos. Não basta sair pelo mundo usando óculos cor-de-rosa e desovar um Deus te abençõe no colo de cada um.
É preciso ser implacável. Você tem de ser incômodo para todos os sistemas, inclusive para o seu (porque é evidente que os sistemas, mesmo os nominalmente seculares, são todos religiosos). Tem de abrir mão de respostas prontas e posturas estanques. Não pode mais ver a injustiça e ficar calado. Tem de pressentir a armadilha e desarmá-la. Tem de salvar o oprimido e ainda deixar o opressor numa posição publicamente e pessoalmente desconfortável. Tem de cobrir de aceitação os enjeitados e encher os certinhos de dúvidas. Tem de ser inocente como as pombas e astuto como as serpentes.
Tem de ser um herói.
Se queremos seguir Jesus para onde ele foi, o segundo passo é aprender a não fazer o que os outros esperam, e por uma boa razão.
Sunday, September 10, 2006
Fragmentos heréticos
Fragmentos heréticos.
(Ricardo Gondim)
Mal-aventurado o africano
porque a humanidade lhe ensinou a pescar
no rio do desengano.
Desgraçado o que sabe descansar
no colchão desumano
onde piolhos picam até cansar.
Mal-aventurada a mãe que chora
no morro do Rio de Janeiro;
é ela que, em toda hora,
contempla o rés do chão ligeiro,
para ela não haverá desforra,
Nenhum cavalheiro
lhe fornecerá o lenço
para suavizar a face
que a lágrima acalora.
Mal-aventurado o velho
que jaz alucinado
na suja enfermaria sem espelho;
por toda eternidade
ele se imagina aprisionado,
vendo escaravelho
no lustre empoeirado.
Mal-aventurados os generais
que festejam seus faustos feitos;
eles sorvem um vinho pleno de ais;
sem felicidade nos coitos
sabem que suas mulheres são iguais
às meretrizes menos genais.
Mal-aventurados os religiosos
que das verdades fazem dardos
e com elas proferem males rancorosos.
Eles condenam seus convertidos
a viverem como eternos medrosos.
Bem-aventurados os que se contentam com a vida;
eles aceitam qualquer migalha divina
como bênção dividida.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de beleza;
eles caminharão como filhos de poetas,
comerão seus versos na sala da realeza
e só eles perceberão na graúna
partituras completas.
Bem-aventurados os trapezistas
que no circo se balançam perigosamente;
eles nos tiram as vistas
pois somos pobres ilusionistas
que também nos penduramos em fitas
esperando despencar subitamente.
Bem-aventurados os maratonistas
que correm sem esperança de prêmio;
eles buscam suas metas
só pela alegria das conquistas.
Bem aventurados os impotentes;
que se sabem incapazes de amar,
só eles se enxergam carentes
e só neles o Espírito se vai derramar.
Soli Deo Gloria.
Esbórnia !
A INTERMINÁVEL BLASFÊMIA EVANGÉLICA NA POLÍTICA: Sai Satanás!
(Caio Fábio)
----- Original Message -----
From: A INTERMINÁVEL BLAFÊMIA EVANGÉLICA NA POLÍTICA: Sai Satanás!
To: contato@caiofabio.com
Sent: Saturday, September 09, 2006 7:35 PM
Subject: O senhor responderia a este e-mail?
Caio,Graça e Paz!
Tenho enviado alguns e-mails para você e, infelizmente, não tenho conseguido resposta. Mas tudo bem, o senhor deve ter muitos e-mails para ler.
O e-mail abaixo, foi enviado por mim mesmo para alguns líderes evangélicos. Pastores que são muito bem conhecidos no meio evangélico. Como pode ver, esta é a terceira tentativa que faço para obter uma resposta. Como critério enviei o mesmo e-mail com mínimas alterações para alguns destes pastores, como: Silas Malafaia, Jabes Alencar, Jorge Linhares, Bispo Hernandez, Senador Marcelo Crivella... Aguardei uma semana pela resposta, não conseguindo, reenviei o e-mail com algumas atualizações. Por isso esta é a terceira tentativa e, por sinal, a última.
A minha pergunta para o senhor é simples. Se o senhor recebesse um e-mail desse, o senhor responderia? E por quê?
Abaixo segue a íntegra do e-mail enviado:
_____________________________________________________________________________
Graça e Paz, Pr. Xxxx!
Este é o terceiro e-mail que lhe envio na tentativa de saber sua opinião sobre os fatos que aqui apresento. Como está no campo Assunto, este é o último. Neste, como no outro, fiz algumas atualizações.
Tenho visto e ouvido falar sobre muitas coisas provenientes dos bastidores do meio evangélico. Não é preciso ser nenhum 'expert' pra perceber que há algo muito ruim por trás dos púlpitos (graças a Deus não de todas as igrejas).
Sou evangélico há mais de 10 anos e é só observarmos para ver como as pregações mudaram, como o foco mudou, ou desfocou. Igrejas cada vez mais crescem em números... financeiros (patrimônios). Cada vez mais, maiores templos são erguidos no discurso unânime que "Deus merece o melhor".
Igrejas pseudo-evangélicas têm se levantado em nome de Deus como a própria Universal do Reino de Deus (ao menos em minha opinião), que hoje, até partido político tem. Escândalos envolvendo políticos evangélicos têm ecoado aos quatro cantos e, infelizmente, já não há mais diferenças entre "o que serve e o que não serve a Deus" (ou eles não servem a Deus?).
Dos 18 políticos da Universal, 17 estão envolvidos no esquema das Sanguessugas. Sem falar em outros pastores de outras denominações e membros como o próprio Cabo Júlio daqui de Minas Gerais.
Edna Macedo é irmã do Bispo Macedo e, segundo relatório da CPI das Sanguessugas, recebeu propina da Planam inclusive na conta do próprio filho. Marcelo Crivella, sobrinho do Edir Macedo, e que é candidato ao governo do Rio de Janeiro e, apóia e recebe apoio do Lula. Como pode? Lula também recebeu apoio de boa parte das lideranças evangélicas nas eleições de 2002 (nestas eleições ele tem o apoio da Assembléia de Deus e da própria IURD, além de outras), inclusive do Pr. Silas Malafaia que, com a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social pelo Presidente, virou conselheiro do Lula. Indicado pelo Pr. Silas Malafaia, hoje ocupa a cadeira de conselheiro em seu lugar o Pr. Jabes Alencar, tendo como suplente o Pr. Fadi Faraj. E aí lhe pergunto: Pra quê? Por quê?
Se homens como o Pr. Silas, Jabes, Fadi, Macedo ou Crivella lideram um grande número de pessoas é por causa das pregações em nome de Deus. Ou estou errado? Com boa hermenêutica cativam a atenção de seus ouvintes tornando-se famosos no Brasil e inclusive no exterior. Qual o objetivo da conversão de uma pessoa ao Evangelho? Salvação ou aumento do poder de influência, de seus lideres, na sociedade?
Sendo o senhor uma pessoa de destaque no meio evangélico, o que tem a dizer? Qual a sua opinião em meio a isso tudo? Os evangélicos (em boa parte) estão se embriagando com o poder?
Hoje a Universal troca seus políticos porque os atuais deixaram transparecer seus vícios, mas não os trata. Talvez porque teriam muitos doentes pra pouco espaço mesmo sendo detentora de vários terrenos e imensos templos espalhados no Brasil e no mundo.
O senhor é um dos pastores evangélicos que mais vende livros, tendo assim uma influência muito grande neste meio. Diz-me pastor: o que mudou se a Palavra é imutável? Os corações se corromperam? A consciência? Há retorno? Há desejo de retorno?
Eu poderia escrever mais... O André Valadão exige que tenha no mínimo 3000 pessoas num evento que ele for cantar além de exigir a exclusividade da venda de produtos. No último dia 04 a justiça bloqueou bens do casal Hernandez: Mansão em Boca Raton avaliada em US$ 495 mil, fazenda em Mairinque, comprada pela igreja, por R$ 1,8 milhões e outra localizada em São Roque. O surpreendente é que apesar de terem metido a mão nos cofres dos dízimos e das ofertas da Renascer, o casal Hernandez continua com prestígio no meio evangélico. No evento que aconteceu em Portugal e terminou no último dia 02, lá estavam eles 'pregando a palavra'. Só não sei qual palavra?
Sinceramente Pr., conhecer as mazelas do meio evangélico não é algo agradável. A parte boa é que quanto mais sei dessas histórias, mais me dedico a estudar a Palavra. E sabe por quê? Porque não quero ser levado pelo vento, porque não quero participar da doutrina dos fariseus, porque quero viver o verdadeiro Evangelho, porque quero viver na Graça que Jesus abundantemente derrama sobre nossas vidas.
Talvez a grande pergunta que fica em meio a isso tudo é: Qual o objetivo deste e-mail? Pois vou lhe contar. Na vida sempre temos duas escolhas. Ao tomar conhecimento de todos estes fatos eu poderia ficar calado no meu canto ou poderia fazer o que fiz: perguntas.
Quando ainda não existia o protestantismo, a igreja/homens também se embriagaram com o poder e foi necessário surgir um "louco" para romper com todas as loucuras criadas. Este protesto nos rendeu o codinome: protestantes. Mas hoje não há mais o que protestar. No caminho que estão os evangélicos têm sido a própria causa do protesto. O vírus se propaga rapidamente, não?
Permita-me continuar sendo sincero com o senhor O show business gospel precisa continuar. Amanhã novas notícias nauseantes surgirão nos jornais... mas tudo bem... "o pastor é show".
Entendo e continuarei a entender que o senhor é um homem com muito trabalho, no entanto gostaria que me respondesse este e-mail de próprio punho (mesmo sendo digitado).
Aguardo sua resposta
"Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes"
(1º Coríntios 1:27)
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No mais, Caio, que o senhor continue abençoando sua vida.
Um grande abraço
Att
Riva Moutinho
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Querido Riva: Graça e Paz!
Eu disse semana passada que não tenho nada mais a dizer acerca da “Igreja Evangélica”. Sim, porque quando encontrei Jesus, foi a Jesus que encontrei, e não a igreja, qualquer igreja, por isto jamais tive interesse em qualquer envolvimento institucional com a “igreja” — fossem os presbitérios, os sínodos, os supremos concílios, e todas as demais instancias de poder denominacional; e a política nem se fala.
Os convites vinham de todos os lados e de todas as denominações, e eu conto em uma mão as vezes em que aceitei falar neles. Na Igreja Presbiteriana, à qual estive ligado por um fiapo como ministro (apenas lia meu relatório uma vez ao ano, e nem ficava para qualquer que fosse a reunião, pois minha alma não conseguia conviver com o ridículo associado à falta de qualquer propósito que não fosse a vaidade de medíocres) — aceitei, em meio há cerca de três convites para encerrar a reunião do Supremo Concílio, apenas um deles, em 1998. E apenas atendendo um apelo de meu amigo Reverendo Guilhermino Cunha. And that was it!
Quanto à política, me convidaram para tudo e me ofereceram tudo. Se oferecem a eles, imagine o que ofereciam a mim, diante de quem, naqueles dias, e do ponto de vista da respeitabilidade e do interesse que eu provocava, esses carinhas não passavam de camelôs na esquina. Mas eu nunca tive uma só coceira. Sabia que se me envolvesse com política a Palavra já não seria pura em minha vida, sem falar que seria um estelionato.
Quiseram me candidatar à Presidente, à Vice-Presidente, à Senador, à Governador, à Prefeito, etc. E saiba: minhas chances, se eu tivesse estomago e nenhum escrúpulo, seriam imensas — pois sei que me sairia melhor do que todos eles — do Lula aos demais. Sim, pois são fracos e insensatos; e não têm preparo nem mesmo para dizer o que pensam.
Essa moçada “evangélica” que você mencionou é venal, corrupta e interesseira. Já conheci a quase todos eles, anos atrás (o cacófato é intencional: anos atrás) vendidos para qualquer que fosse o esquema de poder.
O Lula! Ah, a meu Deus! O Lula! — de mim tem apenas orações, mas voto, NUNCA MAIS.
Enquanto eu e o Robinson Cavalcante éramos os únicos amigos de expressão pública que ele tinha (1989-90 - em diante) — tanto o Robinson quanto eu nos tornamos objetos de pilheria por parte dessa mesma moçada que fosse citou. Sendo que o Robinson, como tinha infinitamente menos influencia no todo do que eu, foi poupado, sobrando pra ele apenas uma criticas. Eu, todavia, fui objeto de inúmeras charges no Jornal da Universal, e de quase todos os demais grupos. Sem falar que as Valises de Nada (ou Malas) e outros Sacos de carregar...—não perdiam nenhuma oportunidade distante de mim, fisicamente, a fim de dizerem alguma coisa; e isto apenas porque eu conversava com o Lula e com inúmeros outros políticos, mas sem jamais ter qualquer vinculo com eles, e sem deles jamais ter recebido qualquer coisa.
Todos os que você citou, sem exceção, na minha frente, inúmeras vezes, me diziam que ser amigo do Lula “queimava”, pois o Lula não tinha futuro. Eu, entretanto, nunca tive nenhum interesse político no Lula. Jamais. Era apenas amigo dele.
Quando ele, Lula, me envolveu na história do Cayman (pois ele, Bené e Dirceu é que foram os que apelaram insistentemente para que eu dissesse o que o Lula mesmo ficou sabendo na minha sala, e pela mesma pessoa que me havia contado, quase um ano antes, sem que eu nada tivesse dito a ele, Lula, ou a quem quer que seja o que havia ouvido) — botou a Bené de plantão, ligando, ligando, ligando... — e todas as noites chorando e dizendo: “Meu pastor! Arranja isso pra gente! O Lulinha está perdido em isso! O senhor é nosso amigo!” (Tenho tudo gravado!) — Sim, até ali eu nunca havia dado a menor chance aos políticos. Tenho uma história de mais de 30 anos como minha testemunha.
Antes de ser Presidente da Associação Evangélica Brasileira, pessoalmente já havia escrito inúmeros manifestos acerca do “Voto Evangélico”, e já era o inimigo público número desses artistas do estelionato, do mimetismo camaleônico, e da total venalidade.
Você se converteu já depois que eu havia saído do cenário, daí estar me escrevendo estas coisas, pois, caso tivesse vivido antes no meio, saberia que minha contribuição está dada faz décadas.
E mais: a coisa, neste aspecto, não está pior. Está igual. Apenas mais escrachada. O “casal” referido tem que ficar grato que foram apenas essas besteirinhas que descobriram, pois, digo na cara deles que são ladrões e corruptos, e que usam da boa fé do povo faz tempo. Eles têm medo de mim! Eles e os demais!
Eles vendem a mãe por tais projetos de enriquecimento fácil. São sepulturas invisíveis. São como o portão da morte. São filhos da perversidade!
Não há surpresas! Eles estão fazendo o que sempre fizeram.
Entretanto, hoje, minha contribuição é não ser mais “Evangélico” a fim de poder dizer “Não” com toda a minha alma a essa abominação aos céus que eles praticam, usando e blasfemando contra o nome de Deus — e enganado, usando, explorando, e matando as esperanças de muitos, enquanto criam uma legião de filhos do inferno pior do que eles.
A rainha de Sabá se levantará no juízo com esta geração e a julgará. Pois se em Sodoma e em Gomorra o Evangelho tivesse sido pregado como a essa geração, e se a palavra da profecia tivesse a eles chegado conforme se fez e se faz ouvir nesta geração — eles, os de Sodoma, estariam vivos até os dias de hoje.
Mas esses filhos do engano evangélico serão julgados pelos habitantes de Sodoma e Gomorra; pois os daquelas cidades pecavam em seu próprio nome, mas esses corruptos, pecam contra Deus, usando-Lhe o Nome, e tratando a alma humana como gado sendo levado para o matadouro.
O Juízo sobre eles não tarda!
A tal da Cartilha Evangélica do Voto Ético, que a AEVB divulga hoje, dizendo que foi escrita em 1998, foi escrita antes, por mim em sua quase totalidade. Eles fizeram apenas sutis troca de umas poucas palavras, pois tenho o original comigo — embora eles não digam que em 1998 apenas pegaram o que já existia, e que mudaram umas poucas palavras, e que divulgaram como coisa nova. Ora, de nova nada tem; pois, antes da AEVB existir, pela Vinde eu já havia escrito, publicado e divulgado a tal cartilha.
Além disso, quando o Impeachment do Collor, escrevi um livro chamado “A Bíblia e o Impeachment”, e que versava sobre todos esses temas. Sem falar que em todos os Congressos da Vinde esse era um tema recorrente em minha boca, bem como no Pare & Pense (programa de televisão que tive no ar por mais de 26 anos), e na Revista Vinde. Também sem falar das centenas de falas, de artigos, e de palestras aqui em Brasília (no Congresso) — todas sobre o tema; e isto de 82 pra frente. Além disso, entre os arquivos dos jornais e das televisões em geral (da Globo à demais), e você verá dezenas de textos, entrevistas, e denuncias, feitas por mim, ao esquema do Diabo na Política Evangélica. Sim, a política evangélica é mais do diabo do que qualquer despacho da pior macumba.
O objetivo desses caras é simples: movidos por uma vaidade que se origina num complexo de inferioridade bem “evangélico”, o que eles querem é fama, poder, dinheiro, e acesso à vantagens, que eles dizem que é “para a igreja” (o que já seria desastroso), mas que de fato é apenas para eles — enquanto os evangelotários dizem: “Glória a Deus!”.
Não há nada novo acontecendo. A única mudança é que os Ratons estão soltos na Boca. Sim, agora eles estão soltos... Eles sabem que quando estava na “ativa evangélica” eu era uma montanha no caminho deles. Daí o terem se alegrado tanto com minha tragédia pessoal; e, além disso, terem feito de tudo para me calarem; e, hoje, não podendo, e vendo que o povo me ouve, fazem o que podem para tentar ressuscitar todos os dias os meus pecados mortos, os quais, se humanamente fossem comparados com o que fazem, seriam erros de freira, pois, foram tópicos, e foram parte de um surto rápido (ligado ao meu divórcio em 98), e nunca crônico (durou seis meses), e nunca marcado pela vontade perversa e crônica que marca as ações deles; pois, tinham apenas a ver comigo.
O SENHOR É O JUIZ DESSES FATOS!
E DEUS É VIVO!
ESPERE E VEJA!
Mas eu sou uma voz público-solitária no deserto faz tempo. E quem disser o contrário, eu digo: está mentindo; e é filho da mesma amnésia do inferno!
E haverá uns palhaços que dirão que estou sendo arrogante por estar dizendo isto. Não! Apenas sei como o fiz, porque o fiz, e porque o faço. Quem não entender, espere. Deus mesmo explicará. Eu não tenho que me explicar a ninguém. E nem estou nem aí pro que pensam. Pois se você está chocado com as bobageninhas que sabe, imagine eu, que sei o que ninguém praticamente sabe, exceto os próprios bandidos evangélicos.
Mas como não sou mais “evangélico” — comecei a deixar de ser, conscientemente, em 1994, quando ainda presidia a AEVB — peço a você e a todos que me poupem de opinar. Todavia, pode enviar este meu e-mail para os vampiros da “igreja”. Eles temem a Luz. Embora as trevas que já lhes cegaram os olhos, e caso não venham a se converter, as trevas ainda venham a ser seu próprio cárcere.
Meu irmão, grande juízo já começou; e crescerá a ponto de todos fecharem os olhos e os ouvidos, e dizerem: Como pudemos ser tão cegos?!
Nele, que disse: “O meu reino não é desse mundo”,
Caio.
Wednesday, September 06, 2006
Piada ?
"Quando era pequeno eu costumava orar toda a noite pedindo uma bicicleta, até que percebi que não é assim que Deus funciona.
Então eu fui lá, roubei uma e pedi que ele me perdoasse. E funcionou!"
(Emo Philips, comediante americano.)
Frase...
"Não restam muitas escolhas. Estamos condenados a aprender a viver."
(Ricardo Gondim - Angústia.)
Sunday, September 03, 2006
Pobreza - nojo científico.
A natureza do nojo de pobre.
(Márcio Venciguerra - jornalista e membro do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ciências Cognitivas da USP)
A ciência mostra agora que existe uma nova forma de exclusão: a exclusão emocional. Os excluídos sociais não são vistos como gente, logo de cara. Isso é um fato. Triste, mas agora é um fato comprovado e recomprovado. É mais fácil sentir inveja dos ricos e orgulho pelos heróis do esporte do que se condoer pela situação de um miserável. A piedade é reservada aos idosos e aos deficientes físicos e não aos moradores de rua ou drogadictos. Estes provocam reações de nojo no cérebro.
E não estamos falando apenas de mauricinhos e patricinhas. Mesmo pessoas preocupadas com problemas sociais não têm empatia imediata quando olham imagens de pobreza extrema, segundo demonstraram recentemente duas pesquisadoras da Universidade Princeton (EUA), Lasana Harris e Susan Fiske. “Em pesquisas anteriores”, disse Susan em entrevista por e-mail, “ficou claro que militantes em favor dos pobres também os consideram estúpidos”.
Lasana e Susan registraram quais emoções surgem nos exames de ressonância magnética de 24 voluntários normais (sem doenças ou lesões). As pessoas assistiram a seqüências de fotos variadas e foram estimuladas a pensar no assunto. Por exemplo, quando era exibida a foto de um morador de rua, as pesquisadoras pediam para o sujeito se imaginar um assistente social, e planejar qual cardápio deveria ser oferecido a eles numa atividade beneficente. Enquanto isso, o aparelho escaneava os miolos, registrando a atividade mental. Isso é, quais circuitos de neurônios eram usados para pensar naquele exato momento.
As pesquisadoras procuravam assinaturas já conhecidas, que significam a entrada em funcionamento de grupos de neurônios relacionados com quatro emoções: orgulho, inveja, piedade e nojo. As reações estão catalogadas num método conhecido como o Modelo de Conteúdo de Estereótipos (Stereotype Content Model, ou SCM), construído a partir de experimentos em 13 nações, normalmente feitos com alunos universitários e voluntários de classe média.
Susan e Lasana têm se dedicado a descobrir os mecanismos do preconceito. Elas querem saber como um ser humano desumaniza um outro, e o quanto isso facilita praticar maldades, como o assassinato e a tortura. Este método, que permite analisar diretamente a emoção, ofereceu uma perspectiva completamente nova e assustadora. Segundo elas, o preconceito é visto tradicionalmente como simples animosidade social e política. Porém, o SCM tem mostrado que alguns são sentimentos piores. A visão de quase todos os grupos sociais costuma ativar o córtex pré-frontal medial, uma região embaixo da testa que só funciona quando a pessoa pensa sobre si mesma, ou sobre outro ser humano. Quase todos os tipos de pessoas, menos os extremamente pobres e os viciados. O pensamento nos miseráveis é processado na insula e amigdala, áreas do cérebro fortemente relacionadas com a sensação de nojo. A imagem de uma privada entupida provoca uma reação semelhante à de um mendigo.
Para as pesquisadoras, a falta de atividade no pré-frontal durante a exibição de fotos de pessoas excluídas mostra que "membros de certos grupos sociais parecem ser desumanizados". Embora as pessoas possam, conscientemente, encarar os excluídos como gente, o cérebro processa como grupos sub-humanos. E não importa se o indivíduo testado está consciente deste fato.
Ninguém interessado no progresso da humanidade tem o direito de ignorar essa evidência, pois é muito contra-intuitiva. A empatia é uma característica muito comum nos seres humanos e este tipo de exclusão emocional não deveria acontecer. O estudo será publicado na próxima revista Psychological Science, com o título Desumanizando os excluídos dos excluídos: neuro-imageamento de respostas à exclusão extrema (Dehumanizing the lowest of the low: neuro-imaging responses to extreme outgroups).
A pesquisa de Princeton alerta para a revisão de nosso modo de fazer política em favor dos excluídos. As pessoas interessadas em valores humanos também não podem se dar ao luxo de cair num conto do vigário antigo e acreditar na prevalência de um sentimento cristão em favor dos mais pobres. Ao contrário, os fomentadores do ódio já começam um passo à nossa frente.
Lutar pela inclusão emocional exige esforço e inteligência. Temos de mostrar as histórias de vida dos miseráveis e humanizar sua imagem se queremos mobilizar corações e mentes. Essa lição, aliás, já é bem conhecida dos fotógrafos interessados em problemas sociais. Lewis Hine se cansou de brigar por causa disso com os outros militantes da Liga Contra do Trabalho Infantil, no início do século XX, no Estados Unidos. Ele relutava em montar uma exposição mais chocante, e dizia que sua tarefa não era fotografar a miséria, mas sim, mostrar uma criança bonita submetida a maus tratos. Feridas expostas não levariam ninguém mais à manifestação, além daquelas pessoas que já militavam arduamente.
Já os jornalistas e cientistas sociais engajados acreditam demais na obrigação de denunciar. Apontar o dedo à ferida pode conquistar consciências, mas a emoção, que é o tipo de pensamento que nos leva à ação, continuará sendo de repulsa. E, é sempre bom lembrar, que os adversários da justiça social já usam esse conhecimento.
Pesquisas da resposta cerebral a produtos de consumo e seus anúncios estão sendo usados pela turma de marketing para viciar com mais eficiência há quase uma década. Sabe-se, por exemplo, que a visão de um carro esportivo dispara circuitos nos cérebros masculinos que costumam ser ativados apenas na observação de uma mulher bonita. Horrível, não?
Eu não me surpreenderia se isso acontecesse até comigo, apesar do meu ódio profundo pelas máquinas mais antidemocráticas já inventadas. Deixam o povo gordo, sujam o mundo, encarnam (enlatam) o máximo do egoísmo humano e dividem os cidadãos entre motoristas e pedestres. Faço questão de deixar o meu mísero tomovinho mil o mais sujo possível para demonstrar esse rancor. No entanto, por mais que eu rejeite a idéia, devo fazer essa injustiça com as mulheres e reagir à maravilhosa visão de um corpo feminino do mesmo modo que vejo a desprezível traseira de um porsche fedorento (ainda por cima um troço inventado por aquele engenheiro nazista). Enfim, a peneira não ajuda a proteger do sol. O conhecimento empírico deve ser usado para nortear nossas ações, mesmo se às vezes nossos miolos nos envergonham. Esse embaraço, porém, pode ser dirimido com a compreensão mais profunda de seu funcionamento.
Em primeiro lugar, não seria evolutivamente sensato se apaixonar por miseráveis, o que de pronto afasta os remediados dos mendigos. Isso não é de todo mal, porque até os mais solidários sabem do risco de abraçar um afogado e afundar junto. Além disso, cair na mendicância é um medo corriqueiro e talvez por isso ative a amigdala, uma região cerebral ligada às sensações mais viscerais possíveis.
Nossas mentes são feitas tanto para discriminar e eliminar inimigos, como para escolher e a agradar amigos. Isso teve uma função na luta entre classes, etnias, tribos e contra a criminalidade. Há sempre o risco de serem criados uns preconceitos desumanizadores, que invariavelmente nos levarão à violência. Susan e Lasana acreditam que esse fenômeno explica a tortura por agentes da lei, a ânsia pela pena de morte e aquele hábito internacional de grupos adolescentes burguesinhos atacarem mendigos. O índio pataxó em Brasília não foi um caso isolado. O Japão vive uma epidemia de ataques a idosos que foram parar nas ruas, vítimas da imprevidência privada.
Trata-se de um estilo clássico de crime, para o qual os pais e educadores deveriam dar atenção sem idealizações humanistas bobas. Especialmente porque o comportamento de pelotão assumido por esses adolescentes é semelhante ao observado por etólogos entre jovens chimpanzés e no ataque sem razão de cães domésticos. O frenesi destruidor destes momentos está bem enraizado em nossa mente para continuar sendo ignorado.
A natureza humana coloca este empecilho da exclusão emocional no caminho daqueles que sonham com um mundo melhor. Mas também forneceu a capacidade de empatia necessária para reunir a humanidade. A indiferença é mais comum no reino animal do que a solidariedade, mas a nossa espécie está entre as mais gentis. Só que não somos anjos. A carne é fraca e negamos nossas crenças sem perceber, várias vezes, antes e depois de o galo cantar três vezes.
Who am I ?
Sou uma irregularidade.
(Ricardo Gondim)
Vez por outra leio algo que me deixa com a sensação de que eu é que deveria ter escrito. Invejo André Comte-Sponville quando afirma: “Sem o resto do universo eu não existiria”. Realmente, para que eu acontecesse, infinitas peças, engrenagens e fatos precisaram se encaixar.
Bastou um tranco no joelho do Dote para seus meniscos estourarem e ele desistir do futebol profissional e querer se aquietar ao lado de sua noivinha. Um homérico porre do vovô Zé Gondim deve ter provocado sentimentos casadoiros na Glícia para que ela aceitasse subir ao altar com tanto açodo. Num dia qualquer, borboletas voaram na África, os ventos quentes do nordeste ficaram mais afrodisíacos e o quarto deles se revestiu de uma aura dionisíaca. Sem pílulas anticoncepcionais, e sem muito controle sobre seus apetites sexuais, aconteci. Não devo ter sido planejado (nunca tive coragem de perguntar isso a eles – não é bom saber que vim ao mundo por causa de um vacilo).
Assim, percebo que minha vida é rara. Aliás, sou uma irregularidade do universo. Mereço estudos e pesquisas como uma anomalia da natureza. Ninguém me explicaria. Nem eu mesmo! Quanto mais procuro entender essa coisa estranhíssima chamada eu, mais esperneio por respostas. Por que tantos fatores convergiram para existir um bicho esquisito assim?
Continuarei varrendo poeiras com um pincel de arqueólogo; tenho que me interpretar. Preciso saber porque fujo de baratas, não tolero a textura de banana na boca e gosto de camarão. Será que entenderei porque só quero me enxugar com toalhas bem secas e ásperas, de ler as crônicas dos jornais, de meditar nos epitáfios dos cemitérios e de emocionar-me com poesia? Que bicho mais anormal poderia deleitar-se com Machado de Assis, Vinicius de Moraes e, ao mesmo tempo, pregar sermões semanais se inspirando em Jesus Cristo?
Vou fazer um curso de escafandrista para mergulhar no meu interior; tenho que explorar essas regiões abissais que se formaram dentro de mim. Preciso descobrir de onde vem minha timidez; nos encontros pessoais sou introvertido, porém, desenvolto em grandes auditórios.
Lerei Proust para descobrir porque não gosto de lembrar as melhores experiências do passado; tenho que averiguar a causa de temer tanto a dor da saudade. Deve haver uma razão porque fujo das boas memórias. Percebo que elas me torturam. Por algum motivo não consigo aceitar que a vida passe e me obrigue a sepultar meus amigos. Deixo que os bons momentos que vivi se percam no fundo desse mar chamado esquecimento. Reluto com a dor de nunca mais poder voltar aos inúmeros lugares que tanto admirei e tento não revisitá-los quando eles voltam à minha recordação.
Vou marcar um encontro com Freud para pedir que me explique porque sonho com aviões que nunca chegam ao seu destino. Não aceitarei seus possíveis argumentos de que minha amamentação foi interrompida. Acredito que os seios de minha mãe me nutriram e acalentaram o suficiente.
Aportei em um mundo que já rodava feito pião e percebo que não conseguirei segurá-lo. Cheguei e poucos souberam; direi meu adeus final a um punhado. Partirei qualquer dia e tudo continuará igual: nem sempre os fortes ganharão a peleja e nem sempre os sábios serão ouvidos.
Porém, continuo irrequieto com minhas inquietações. Perturbo-me com a miséria humana, mas não deixo de dormir todas as noites com minha indiferença burguesa. Ao mesmo tempo em que sofro, me acovardo; enquanto protesto contra a destruição do planeta, usufruo a boa vida. Sou uma ambigüidade irritante.
Vou caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento e sem solução. Resta-me somente agradecer a Deus por deixar que eu existisse.
Apesar de tudo, sou um milagre. Só saber disso já dá vontade de pular de alegria.
Soli Deo Gloria.