Monday, July 10, 2006

Minhas incertezas.

Minhas incertezas.
(Ricardo Gondim)


Se exponho minhas vísceras, escrevo meu diário em público e revelo minhas intimidades a desconhecidos, obviamente, me vulnerabilizo. Sei dos riscos quando permito que estranhos caminhem no solo sagrado do meu coração.

Quando sangro em plena avenida, sou acolhido por viajantes atenciosos; porém, não faltam pedradas de quem vasculha nas minhas fraquezas, as provas de meus fracassos.

Mesmo reconhecendo os perigos de despir-me na praça, insisto em fazê-lo. Já não saberia escrever, sem arrancar das minhas entranhas, a matéria prima dessas mal traçadas linhas.

Por mais que os crentes se arrepiem, não temo divulgar minhas incertezas. Cada dia que passa estou mais incerto sobre mim mesmo. Pareço ser o que não sou e sou o que não pareço ser. Se alegro-me com o menino que mora dentro de mim e que se recusa a crescer, também assusto-me com o velho que me espreita de dentro de fotografias coloridas, querendo me possuir .

Sim, estou cada dia mais inseguro de como enfrentarei a morte de meus amores. Terei coragem de encarar essa inimiga quando ela bater na porta de minha casa?

Minha fé não nasceu de certezas, mas de dúvidas. Só quem não consegue provar, necessita crer. Sei sobre o imponderado divino por um tênue testemunho do meu coração. O Espírito testifica com o meu espírito, e isso parece bastar. Mas, como provar? Quando recorro aos argumentos racionais, implorando que eles corroborem com tão sutis verdades, percebo-os impotentes. Reconheço a fragilidade de minha fé que só ouve o inaudível, só percebe o imperceptível e só toca o intangível. Quando afirmo que sei, meu coração aposta no que verdadeiramente nada sabe.

Por vezes, sinto-me inseguro como Davi quando achou que Deus lhe dava as costas, e clamou: “Por que te escondes de mim?”. Subitamente pavores invadem minha alma e fujo para dentro de cavernas como Elias. Semelhante a João Batista, hesito em minhas convicções, e pergunto: “Será que Ele é mesmo quem propaguei ou eu estava enganado?”. Admito, já me comportei como Tomé; pedi provas concretas para alicerçar minha fé.

Imagino quanta negação é necessária para nunca ter que admitir incertezas; quanta energia, para demonstrar que se ultrapassou as fragilidades humanas.

Não invejo a garantia dos religiosos, nem cobiço seus alicerces inamovíveis. Apiedo-me de quem vive repetindo que nunca se abala em suas convicções.

Sou um homem de fé; eis a razão de tanta insegurança.

Soli Deo Gloria.

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