Thursday, June 15, 2006

A mentira da segurança.

Uma mentira chamada "Segurança".”
(Caio Fábio)

Segurança é o que todo ser humano quer!
Entretanto, nem todos pensam em segurança com as mesmas categorias de conteúdo.
Há aqueles, por exemplo, para quem segurança significa muito dinheiro, ou um emprego estável, ou um bom plano de saúde, ou uma herança certa e farta, ou muita saúde, ou não perder o marido provedor, ou ter uma casa própria, ou conseguir pagar pela educação formal dos filhos, ou ter uma família, etc...
Por outro lado, há aqueles para os quais segurança é estar do lado forte nas disputas de poder, ou possuir poder de sedução, ou ter a certeza de que se é desejado, ou a sutileza de “pular a cerca” sem deixar indícios, ou conseguir fazer o errado sem ser apanhado —; permanecendo “em off” na vida, assim como se fossem apenas a “fonte secreta” de um jornalista honesto com as pessoas e com a profissão.
Assim, sejam boas ou más as razões pelas quais as pessoas buscam segurança, o fato é que quase tudo ao que se chama segurança, não é segurança, sendo, estranha e paradoxalmente, exatamente o seu oposto manifesto com as mascaras da segurança.
Segurança, de fato, não inclui nenhuma das coisas acima. A verdadeira segurança é fruto da paz de se saber amado, e, portanto, da satisfação de se ser quem é. Isto porque essa certeza de ser amado vem de uma dimensão do ser que existe de modo muito mais anterior do que tudo aquilo que, cegamente, chamamos de “vida”.
Segurança, portanto, em sua qualidade mais essencial, é o fruto da confiança no cuidado e na bondade de Deus para conosco; mesmo quando dói. Sim, porque, em tal caso, a certeza do amor de Deus por nós imediatamente nos remete para outra certeza, e que o faz dizer: “Dói; eu não entendo esse caminho; mas sei que Quem o conduz, sempre faz tudo visando o bem de meu ser que é; e que há de permanecer para sempre!”
Portanto, sem certeza do amor que é; do amor de Deus — nenhuma confiança jamais nascerá de nós para Deus. É porque Ele nos ama, e age em nosso favor, que respondemos a Ele, quando respondemos, em amor e confiança também. Ora, nossa resposta em amor ao amor de Deus se manifesta como obediência natural ao único mandamento, que é amor ao próximo.
Assim, nossa confiança no amor de Deus se desenvolve na pratica do amor ao próximo, visto que este passa a ser o meu altar de culto a Deus.
Crescidos em amor ao próximo, em razão do amor de Deus em nós, experimentamos confiança crescente; e ela, a confiança, nos faz habitar aquele lugar que alguns homens, desde há milênios, aprenderam poeticamente a chamar de “refugio bem presente na tribulação”; ou ainda de “sombra do Altíssimo”; ou mesmo de “minha fortaleza”; ou de “minha luz e minha salvação”.
Segurança, assim, não é uma condição de vida na terra, mensurável, e fruto de contas e de investimentos que nos dêem alguma “previsibilidade”; isto se o coração não parar sem dar qualquer explicação.
Entretanto, segurança também não é licença para correr riscos. Digo isto porque há pessoas que pensam que certos indivíduos dispostos a qualquer risco, são seguros de si. Na realidade não há ninguém tão inseguro quanto esse suposto ser “seguro de si”.
Na maioria esmagadora das vezes, salvo em casos de natureza psico-patológica, esses seres “seguros de si” são apenas gente sem um mínimo de amor por eles próprios; e, por essa mesma razão, são também inafetivos. Pois as pessoas que se amam e que amam, não procuram riscos; apenas os enfrentam quando não acham meios de evitá-los.
O ser verdadeiramente seguro evita o risco quando o vê. O homem seguro não teme, mas não busca o perigo e nem ama o risco. O homem seguro ama a paz. Afinal, ele próprio é filho da paz.
Assim, se você algum dia vir alguém que não teme nada, que faz tudo o que lhe vem à cabeça, que diz ter prazer nos riscos, que se entrega ao perigo como um homem bomba — saiba: bem diante de você está a pessoa mais insegura que você já conheceu. E meu conselho é: fique longe dela, pois essa suposta valentia atrairá toda sorte de coisa ruim para a vizinhança de sua alma.
O ser seguro apenas é; pois ele sabe que é Sabido em Deus. Por esta razão ele descansa. E é desse descanso confiante e aninhado em Deus que vem a inabalabilidade desse ser humano que anda em seu caminho de fé.
O ser seguro sabe que o que é dele, está guardado. Sabe que o que é seu, ninguém tira. Sabe que tudo segue a lei da vida quando se anda em confiança e amor. Sabe que seu sustento jamais faltará. Sabe que nada vale mais do que buscar o reino de Deus antes de tudo. Sabe que todo diabo cai do céu quando em seu coração o ódio, o rancor ou a amargura, dão lugar ao perdão ao próximo; qualquer próximo, até o inimigo.
E mais: Tal pessoa sabe que Aquele que veste lírios e alimenta pardais, o ama ainda mais. Sabe que muito mais que saber, o que importa é ser; pois no ser há um saber, ainda que, muitas vezes, não saiba de si mesmo.
Ora, essa pessoa também sabe que todo saber que não vire ser, nada é; visto que um saber que não gera vida, é um saber para a morte; pois, no mínimo, vira presunção: e nada mata mais a alma que a presunção; visto que a impede de crescer.
A presunção é a sombra que impede o sol de fazer crescer qualquer que seja a semente boa no espírito humano. Porém, à sombra da presunção crescem aquelas coisas que geram o fruto da insegurança, que são avareza, idolatria, materialismo, narcisismo, infidelidade, e espírito de inafetividade; e, por extensão, suicídio.
Hoje, eu, você e o mundo inteiro, estamos existindo sob o “signo da insegurança”. E nada há mais desgracadamente mortal do que isto!
É em razão de tanta insegurança, indo do plano macro-político-planetário às decisões de natureza afetiva que fazemos decisões de morte. Olhar para as nossas próprias decisões nos possibilita ver que na maioria das vezes escolhemos a segurança-insegura como refúgio e auto-engano; embora, entre nós, tal insegurança se disfarce sob o manto da “segurança de si”.
Assim, a maior insegurança de um homem é sempre confessada como sua segurança!
Desse modo o Evangelho tira o que se esconde dentro de nossa casa, e o expõe gritando seu nome da varanda da alma; e diz: “O que você chama de minha Segurança ou de meu Sucesso, de fato é a sua mais profunda insegurança; pois um homem seguro, em Deus, não conhece segurança e nem sucesso, mas apenas alegria confiante; e isto no dia bom e também no dia mal.”

Nele, que é nossa Única e Real Segurança,

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