Quero viver.
Quero viver.
(Ricardo Gondim)
Quero viver sem as exigências religiosas que não consideram que sou pó. Não aceito mais que continuem demonizando minhas inadequações; não admito que tentem me oprimir com culpas legalistas. Estou, a duras penas, me construindo, portanto, não me submeterei a pedradas. Tento, Deus sabe como, ser sensível à voz do Nazareno e não tolero gritos demagógicos de falsos santos, que procuram mostrar ao mundo o que nunca foram.
Quero viver sem as cobranças impiedosas de quem só deseja me usar. Não, não pemitirei amizades pontuais e interesseiras. Decidi não mais conviver com colegas que cobram a correção dogmática de seus pares. Quero ser livre para pensar e não escandalizar, sonhar e não constranger, rir e não decepcionar, chorar e não entristecer. Para mim, chega de ambientes ajeitadinhos. Não quero ser hipócrita para só mostrar minha vida ou família através de fotografias, em que todos posam sorrindo.
Quero viver sem discursos idealizados. Não quero papagaiar conceitos e verdades tirados de livros teológicos, mas que não têm liga nenhuma com o drama humano. Chega de sermões recheados de jargões, que impressionam pela euforia, mas não significam coisa nenhuma na hora em que uma família tem que esperar no corredor da Unidade de Tratamento Intensivo ou retorna do cemitério. Recuso continuar promovendo ambientes religiosos emocionantes, restritos a momentos esporádicos. Não quero voltar para casa em paz e, cinicamente, abandonar os que me ouviram à dureza da vida.
Quero viver sem a obrigatoriedade de manter-me sempre coerente, grave, e acima de tudo, correto em minhas inquietações existenciais, filosóficas ou espirituais. Não quero continuar me conformando às expectativas dos fariseus de plantão. Não temerei os cenhos franzidos dos doutores da lei, que conhecem a raiz grega de cada palavra da Bíblia, mas são indiferentes ao sofrimento das multidões; prefiro caminhar ao lado de pecadores aos ambientes asfixiantes dos fundamentalistas, onde as opiniões são tão fortes que não se toleram contradições.
Quero viver sem medo de rótulos. Quero carregar a memória do meu pai, que foi preso político, mas nunca cedeu em suas convicções, mesmo sob as ameaças da ditadura militar. Ele não escondeu seu socialismo quando isso significava receber o estigma de subversivo e terrorista.
Quero viver parecido com Jesus, meu grande herói. Ele foi livre, descompromissado com as instituições e amigo de marginalizados. Quero seguir seus passos ainda que incoerente, claudicante, perplexo ou apavorado.
Sei que essa aventura me consumirá pelo resto de minha vida, mas é o que quero.
Soli Deo Gloria.
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