Saturday, April 22, 2006

Dona Lei e Dona Graça.

(Carlos Clay)

Contam que certo dia, dona Lei e dona Graça se encontraram pelo caminho. Dona Lei, sempre conduzida pelo seu cão de guarda, um pitbull, cujo nome era “tormento”. Já dona Graça tinha pavor por manter animais presos. Preferia vê-los soltos, pulando e livres de qualquer coleira ou qualquer controle senão de seu próprio amor pelo dono, no caso, ela mesma.

Foi então que dona Lei viu de longe a Graça e resolveu tirar satisfações, haja vista que dona Graça não havia mais lhe mandado ninguém para dona Lei “santificar”. Então dona Lei disse:
- Dona Graça, estou cabreira com você.
- Ora, e por quê? (responde dona Graça)
- Como assim por quê? (rebate dona Lei indignada) Eu servi de condutora das pessoas até você pra você servir de condutora até mim, ou seja, eu levo elas para serem salvas por você mas depois você as leva a mim para poder santificá-las.
- Mas dona lei, pensava eu que, ao salvá-las juntamente eram justificadas, regeneradas e santificadas. Não foi isso que disse Paulo?
- Não! - responde dona lei, onde já se viu tamanho disparate. Sem controle e severidade as pessoas não podem ser salvas.
- Mas dona lei, sendo assim, qual minha utilidade? Se não é de Graça, então por que a Graça?
- Sei lá, só sei que é assim e pronto. Onde já se viu achar que sem mim pode-se chegar a Deus. Você é apenas um “facilitador” mas eu é que santifico. Quanto mais cumprirem a lei, mais serão santos.
- Perai dona lei, que tal tomarmos alguma coisa e conversarmos melhor sobre isso?
- Tudo bem, responde dona lei, mas já vou te avisando que não bebo bebida alcoólica e não me assento em bares como esses pecadores na roda dos escarnecedores.
- Tudo bem. Podemos ir então ?
- Ok, responde dona lei.

Já na lanchonete, dona Lei diz a dona Graça: - O negócio é o seguinte, temos que ser mais rígidos. O povo precisa ser disciplinado com mais regras, mandamentos e doutrinas. Precisamos colocar fardos pesados sobre eles para poderem “valorizar” você dona Graça.
Dona Graça responde: - Mas querida, isso é religião. Tentar se auto-justificar não é a saída. Essa auto-justificação levará as pessoas a profundas dês-Graças e fará delas bonecos nas mãos de pastores inescrupulosos. Não há nada mais saudável do que a obediência em amor.
- Amor?! - indaga incrédula dona lei, que mané amor coisa nenhuma! As pessoas precisam ter medo e culpa em seus corações. Somente impondo, restringindo, ordenando e controlando as pessoas chegarão ao novo céu e nova terra.
- Mas dona lei, quem já encontrou o caminho só precisa caminhar, sem culpas e sem neuroses. Pode ser até que suje os pés na caminhada mas no caminho já está.
- Olha dona Graça, a senhora é boazinha demais com esse pessoal, assim não dá. Esse negocio de achar que o evangelho é simples não dá certo. Eu não suporto a idéia de que seja tão fácil assim. Lembra-se que existe um inferno? Ou já esqueceu?
- Não, não esqueci não. Mas para te falar a verdade, pouco penso nele.
- Mas devia pensar muito nele. Não existe “arma” mais convincente pra fazer as pessoas “servirem“ a Deus, do que a pregação do tormento eterno. Sempre dá resultado. Você precisa ver a cara das pessoas quando digo que se não me ouvirem, vão sofrer eternamente.
- Bem dona lei, eu prefiro pregar que já esta tudo pago, tudo consumado, tudo feito.
- Haha! Você ficou doida dona Graça. As pessoas vão descambar pro pecado e pro inferno.
- Não é isso que tenho visto, dona lei. Quando as pessoas percebem que a Graça é de Graça elas ficam tão felizes e se sentem tão indignas de tal... Graça, que me ouvem com alegria e paz.
- Sei não dona Graça, esse negócio é muito estranho, não tem lógica.
- Mas é isso mesmo dona lei, a pregação da cruz não tem lógica. É escândalo para os judeus e loucura para os gentios.
- Deixa pra lá dona Graça, já vi que não vou conseguir convencê-la mesmo. Mas você já está avisada, ou me dá as pessoas de volta, ou lhe enviarei minhas maldições decorrentes da lei.

Nesse ponto dona Graça respira fundo e responde:
"E havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz." (Colossensses 2:14).

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